Padeças Se Desejares

Meu fardo indagou-me em sonho:

Por que me passeias tão tristonho?

Sou o tormento. Tu, o ungüento

Sou foice ao breu. Tu se esqueceste?

Sou a praga a vestir. Tu, medo de agir.

Por que não me mandas pro inferno?

Sou calabresa. Tu, gôndola em Veneza

Sou graúna, fogo e Eva. Tu, névoa

Apuras quem sou e vês se mereço teu apreço.

Por que não me privas do pascigo?

Sou onívoro e voraz. Tu, lilás

Sou cancro, escabiose. Tu, a dose

Sigas na juncada vereda, ao topo.

Por que não espetas outro fardo?

Estou cansado. Tu, içado.

Estou definhando. Tu, encenando

Chega! Por que não me dás a aposentadoria?

Cesar Poletto
Enviado por Cesar Poletto em 10/07/2006
Reeditado em 03/08/2007
Código do texto: T191175
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