Infarto
Angélica T. Almstadter
Não invada a minha veia,
Pra cessar essa sangria,
Estou enfartando de palavras,
Com estrangulamento da carótida,
Da forma mais exótica;
Por excesso de poesia!
Sente e devagar, saboreie;
Esse jorro em homilia,
Da minha adoração profética.
Sinta o gozo do conteúdo,
Em silêncio respeitoso,
Da minha forma fálica,
De usar a fonética.
Pra falar um pouco de tudo,
Vou em cortejo amoroso,
Desfiar verbos e versos,
Embolados e travados na goela,
Os meus universos;
Em dimensão paralela.
Minha voz metálica,
Martela sons, que imagino,
Alinhando em linhas cruas,
Palavras tão minhas e tão nuas.
Pranteio o meu culto,
De louvor e adoração,
Sem intenção de indulto.
Bebamos pois à nossa rebeldia;
À revelia dos infelizes,
Morramos de demência,
Amantes, nós, por convivência;
Das mesmas cicatrizes.