A Maldição dos Insetos

A folha de ipê a cair

Da bainha em ruptura

Vai a joaninha a sorrir

Na carona, com tontura.

Por delgada ser

Desce a folha, em rebolado

Mui contente em conter

O besouro bem montado.

Venta a incrementar as danças

Da linda folha e da joaninha

A se esbaldar feito crianças

Papagaio, amarelinha.

Na fria e erma paisagem

Mantém-se atenta a rainha abelha

Do enxame de passagem

Observando a viagem

Aguarda o pouso na aragem

Que com pluma se assemelha.

Indagado o coleóptero

Da sensação de liberdade

Como gracioso helicóptero

Extinguiu sua vontade.

Redargüiu à matriarca

Se nutria igual desejo

No embalo do ensejo

Nem sequer notado o pejo

Revelou a rente marca.

Estarrecida, disse a rainha:

Assassinastes a amiga folha!

Mastigastes a bainha

Premeditada e sem farinha

A abraçar o que não tinha

A mercê duma voltinha.

Selastes aí, o seu destino:

Vais viver como pessoa

Que em prol da vida boa

Saca d’outro, um bem mantido

Marido trai mulher

A mulher, o marido.

Cesar Poletto
Enviado por Cesar Poletto em 12/07/2006
Código do texto: T192663
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