Na tripulação dos condenados, clamo por um bote salva-vidas

Diante da contundência do juiz, recuei

Um magistrado perfeito, talvez eu não temesse

Mas, nesse caso, sem prazo

O maior subjuga o menor

Seus olhos sabem que pouco estudei

Se aqui estou, perante a sociedade falhei

Na perfeita sentença da natureza

O céu recua-se, bem sei

Admiro seu martelo, sua destreza, seu veredicto e equilíbrio

O paradoxo da vida:

Quanto mais real, mais mística

Vivo num eterno processo

Onde os levantamentos de hipóteses devem ser provados

Imerso na subversão de carimbos, folhas, fatos e amostras

Processos protocolados, recolhidos e inspecionados

Não fiz o ato?

Até o final da investigação...

Não me sentia imputado

Deixei pela metade minhas intenções, um drink inacabado, verberações

Mas fui acusado, formalmente citado

Diante de tanta umidade e frieza do magistrado

No ato da defesa, o promotor em destreza

Senti náusea, como se estivesse gripado

Já não posso com papéis, carpetes e ar-condicionado

Perante minha própria fragilidade, consternado

Não me absolveram, ao contrário

Confirmaram-se as acusações, sem apelo e nem zelo

Algemado, pelas correntes do Estado, fui levado

Hoje, sou mais um encarcerado na tripulação dos condenados

Marciano James
Enviado por Marciano James em 16/11/2009
Reeditado em 24/01/2011
Código do texto: T1926831
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