Sinais

No território da amargura os dias não têm cor.

Tudo é de um cinza frio, metálico.

E as palavras se perdem assustadas num tiroteio de pensamentos.

Absortas, frágeis, temerosas, casadas com reticências.

Verdades sumidas entre as aparências.

Então me calo inundada daquilo que não sei.

Do que nem sequer chegou a ser abrigo.

Um cais além de mim.

Um vendaval, um algo assim:

Num precipício entre o sim e o não.

Entre a ternura e a razão.

E rupturas se estendem em varais.

Febril, cansada, exposta em documentos, no gelo de uma certidão: um anúncio.

Verbos calados anunciam destinos.

O que foi referido, não tem Fé.

Não é fértil...

Não é carne, nem osso, nem humano, é dor.

Como a navalha que perpassa a pele do bandido.

E democracias explodem em mosaicos de religiões.

E bandeiras caem ao chão.

O que é estado, de fome e frio?

O que é raça?

O que é crença?

O que é nação?

E na cabeçada do artilheiro cai o Estado de Direito.

Cai a esperança.

Perdida nos muros dum presídio.

E não há dança, não há flor e não há criança.

Os dois olhos do humanismo cegos, como se tardia fosse a perplexidade.

Um silêncio dói, corrói...

Um silêncio afronta os jornais.

Um silêncio explode em capitais.

Um silêncio repleto de sinais.