Fim do Túnel
Culpo-me todos os dias
por não ter razões pra me culpar.
Canso de tudo, de todos,
e dos muitos poucos que me compreendem.
Canso de me culpar.
Culpo-me por cansar.
Alheio. Aquém e além.
Tudo, menos o meio termo.
E no intervalo de cada inspiração,
de cada batida cardíaca e
de cada tecla pressionada,
compreendo o porquê de eu estar aqui.
Irremediavelmente vivo, posto que nasci,
mas convictamente desalmado.
Interlúdios viscerais d'um espírito em conflito,
lapsos cadavéricos d'um corpo sem elixir.
Sagrando por dentro, sadio
[vadio
por fora.
Lúdico na arte de amar, mas incapaz de se conter
ao mero badalar de um sinal mundâneo.
É mentira que a verdade não mente.
E percebo isso, no instante entre dois segundos.
Como nunca percebi em todos os instantes
entre todos os segundos
da minha vida.
Agora pecebo. Não há justeza no mundo dos porcos.
Não há certo e errado, principalmente quando a
[prostituição
banalização do caráter é regra e não exceção.
Olho o homenzinho na rua,
ele e sua baguete com gergelim
esacapando por entre os braços finos.
Olho as faces da lua,
sinto o cheiro doce do alecrim
e o coro em uníssono dos hinos.
Vejo tudo. Todos.
Mas nada compreendo.
E percebo isso, meu Deus,
no vão de dois segundos,
no intervalo de cada tecla pressionada,
no levitar de cada ser incorpóreo,
no suspirar de cada amante desgraçado.
No lapso entre o viver e o morrer.