Entre o mar e o cais

Conheço uma bambina que oscila entre o cais e o mar. Ela teme, talvez, os perigos que o oceano oferece: com suas ondas, intempéries e tempestades. Mas por outro lado, talvez, perde tudo o que o oceano pode oferecer àqueles que nele se lançam: a amplidão da liberdade, o vasto horizonte, a possibilidade do encontro consigo mesmo. Não, nem todos estão dispostos a se lançar ao risco de desbravar os mares. Antigos navegantes gregos, os argonautas, evocavam uma frase célebre antes de se lançarem aos mares: "Navegar é preciso; viver não é preciso". Viver aqui é entendido como se resguardar no previsivel, no já conhecido, no marasmo tranquilo do cais, cotidiano. Navegar, por sua vez, entendido como a possibilidade de ampliar os horizontes, desbravar novas fronteiras, descobrir-se em fim. Digamos que ela arriscou um pouco, navegou algumas léguas, e retrocedeu temendo os perigos do mar. Isso me faz lembrar Vinícius de Moraes, que, certa feita, setenciara: 'Para viver um grande amor perfeito; é preciso também ter muito peito - peito de remador. Para viver um grande amor.'

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Alex Canuto de Melo
Enviado por Alex Canuto de Melo em 21/11/2009
Reeditado em 26/11/2009
Código do texto: T1935957
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