O SINO DOBRA
A velha senhora de preto
A limpar com cuidado a ermida
Arranja-lhe as flores, as rendas
Pensando nos santos do altar
Imagem da Virgem, Seu manto
Nos cantos dos anjos do Céu.
Apenas um pobre penitente
Ocupa o vazio da capela
Ajoelha-se em preces, choroso
A confessar os parcos pecados
Para o Deus por todos temido
Aos pés de Jesus Crucificado.
O sacerdote que guarda o Cálice
Revê os seus ermos desejos
Pelo destino escolhido aplacados
E repensa o peso da fé
Vestida de ausência de mundo
Renúncia de amores, prazeres.
Lá fora, o sino desperta
Para avisar as gentes vizinhas
Das guerras, da fome, da morte
Que há ganância, inveja, ruínas
Há beijos, pernas e cópulas
É a vida presente que eclode.