O SINO DOBRA

A velha senhora de preto

A limpar com cuidado a ermida

Arranja-lhe as flores, as rendas

Pensando nos santos do altar

Imagem da Virgem, Seu manto

Nos cantos dos anjos do Céu.

Apenas um pobre penitente

Ocupa o vazio da capela

Ajoelha-se em preces, choroso

A confessar os parcos pecados

Para o Deus por todos temido

Aos pés de Jesus Crucificado.

O sacerdote que guarda o Cálice

Revê os seus ermos desejos

Pelo destino escolhido aplacados

E repensa o peso da fé

Vestida de ausência de mundo

Renúncia de amores, prazeres.

Lá fora, o sino desperta

Para avisar as gentes vizinhas

Das guerras, da fome, da morte

Que há ganância, inveja, ruínas

Há beijos, pernas e cópulas

É a vida presente que eclode.

vitória Paterna
Enviado por vitória Paterna em 14/07/2006
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