Cidadela dos Tolos

Sei de um lugar onde

não há dia nem noite.

Lugar de eterna madrugada.

Lá é sempre outono e

o tempo para, mas não para.

Todos fumam, todos bebem.

(nada disso faz mal lá)

Vivemos enchendo a cara

ou filosofando sobre tudo,

sobre nada.

Se não há tempo, não há sono.

Ninguém fica cansado.

Há tempo de sobra, mas

nunca ficamos entediados.

Nos divertimos, mesmo calados.

De quando em vez chove.

Um chuvisco fino, alegre e triste.

Se não chove, nunca há nuvens.

Uma lua cheia reside num céu

sem estrelas nem enfeites...

Preferimos quando há neblina;

não há horizontes nem fronteiras.

Damos passos cegos e vivos,

sem medos de abismos.

Livres à nossa maneira.

Lá a iluminação é precária,

amamos a penumbra.

Nela pode-se confundir

a imagem de uma santa

com a silhueta de uma puta.

Estradas de paralelos,

casas velhas e desgastadas,

sem edifícios nem comércio,

mas a mesa é sempre farta.

Como seria bom morrer lá!

Sempre que chego sorrio

ao ler o aviso aos visitantes:

“Bem vindo ao lugar,

onde apenas gostariam de viver

grandes tolos sonhadores.”