Confissões de Lolita

Iniciei-me precoce, suave e irreverente

Aviltação em matéria da criação inconsciente

Sua sedutora mostrando-lhe o precipício bem à frente

Vangloriava-me, de início, na arte da sedução incongruente

Numa incerta hesitação adolescente.

Humilhava-me por não ser flor

Desprezava-me por ter seios assimétricos, sentir dor

Jogava-me em seus braços num fascínio inacabado, quase-amor

Tornava-me antipática pela perdulária fertilidade

Apesar da idade, exigia-me quadris com habilidade.

Não era “a que se cheire”, acusava-me em defesa

Fingia que iria lhe esquecer, recomeçar, um jovem de minha idade conhecer

Cedo ou tarde, igualaríamos em emulação e desacertos

Nas manhãs, preenchia-me de indelicadeza viscosa e espessa

Ao seu modo, terna violação, desfazia-me ilusões, presenteava-me com infames comparações.

Não me deixaste pétalas ou folhas, só as palavras certas

Arrancaste-as em logro encanto, Sr. Humbert Humbert

Em incompatíveis emoções, seu forno me esquenta

Ferindo as conveniências, sendo inoportuno

Trouxe-me prejuízos e desvantagens e não se lamenta

Mas também lhe quis, desejei partir contigo, sem rumo, isso eu assumo!

*Baseado em: Lolita (Vladimir Nabokov: 1955).

Marciano James
Enviado por Marciano James em 23/11/2009
Reeditado em 19/12/2014
Código do texto: T1939634
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