Confissões de Lolita
Iniciei-me precoce, suave e irreverente
Aviltação em matéria da criação inconsciente
Sua sedutora mostrando-lhe o precipício bem à frente
Vangloriava-me, de início, na arte da sedução incongruente
Numa incerta hesitação adolescente.
Humilhava-me por não ser flor
Desprezava-me por ter seios assimétricos, sentir dor
Jogava-me em seus braços num fascínio inacabado, quase-amor
Tornava-me antipática pela perdulária fertilidade
Apesar da idade, exigia-me quadris com habilidade.
Não era “a que se cheire”, acusava-me em defesa
Fingia que iria lhe esquecer, recomeçar, um jovem de minha idade conhecer
Cedo ou tarde, igualaríamos em emulação e desacertos
Nas manhãs, preenchia-me de indelicadeza viscosa e espessa
Ao seu modo, terna violação, desfazia-me ilusões, presenteava-me com infames comparações.
Não me deixaste pétalas ou folhas, só as palavras certas
Arrancaste-as em logro encanto, Sr. Humbert Humbert
Em incompatíveis emoções, seu forno me esquenta
Ferindo as conveniências, sendo inoportuno
Trouxe-me prejuízos e desvantagens e não se lamenta
Mas também lhe quis, desejei partir contigo, sem rumo, isso eu assumo!
*Baseado em: Lolita (Vladimir Nabokov: 1955).