PASSAGEM
O silêncio nos obriga a escutar
tudo o que o vento agita:
o primeiro choro do menino
que rebentou em luz do dia
e cego, perdido,
procura perceber a vida,
até o respiro final do homem
em seu momento noturno,
lastimando o ato da despedida.
O vazio se queixa
de nada ser,
mais inútil que um furo no bolso
por onde passam os poucos vinténs
recolhidos pelo mendigo do tempo.
Mas, o vazio, pesa...
Mas, o vazio, tudo contém...
Somos o que conseguimos concretizar,
fora isso, resta-nos o esquecimento,
o pó das estrelas apagadas.
Talvez sejamos feitos de vários dias,
várias vidas,
muitas vindas.
Talvez sejamos etéreos
e, falsamente,
nos acreditamos tão espessos.
Talvez sejamos velha mala abandonada
esperando mão piedosa que nos conduza.
E eu respiro!
E tu respiras!
Exalamos a vida!