PASSAGEM

O silêncio nos obriga a escutar

tudo o que o vento agita:

o primeiro choro do menino

que rebentou em luz do dia

e cego, perdido,

procura perceber a vida,

até o respiro final do homem

em seu momento noturno,

lastimando o ato da despedida.

O vazio se queixa

de nada ser,

mais inútil que um furo no bolso

por onde passam os poucos vinténs

recolhidos pelo mendigo do tempo.

Mas, o vazio, pesa...

Mas, o vazio, tudo contém...

Somos o que conseguimos concretizar,

fora isso, resta-nos o esquecimento,

o pó das estrelas apagadas.

Talvez sejamos feitos de vários dias,

várias vidas,

muitas vindas.

Talvez sejamos etéreos

e, falsamente,

nos acreditamos tão espessos.

Talvez sejamos velha mala abandonada

esperando mão piedosa que nos conduza.

E eu respiro!

E tu respiras!

Exalamos a vida!

vitória Paterna
Enviado por vitória Paterna em 15/07/2006
Reeditado em 14/10/2007
Código do texto: T194315