O Capoeira

Eu queria aprender berimbau

E fui falar com o mestre local

“Senta e me ouve contar

Uma história triste que faz chorar

Eu era um rapaz sossegado

Vivia de ensinar capoeira

Em Feira de Santana, Bahia

Até que apareceu lá um dia

Um sujeito estranho de outras bandas

Disseminando brigas e drogas

Os jovens eram tão inocentes

Caíram sem saber na cilada

Mas certa noite eu vi pela frente

O forasteiro surgir do nada

Pedi que ele pensasse direito

Deixasse nossos filhos em paz

O homem respondeu desse jeito:

“Não sei do que tu fala, rapaz”

Eu ’tava com o sangue fervendo

Não tinha medo de malandragem

“Você agora ’tá avisado

Vá se virar em outra paragem”

O sujeito então puxou o estilete

Eu me benzei e fiquei alerta

A dança era boa e pra frente

Um golpe eu lhe acertei com a perna

Cambaleando caiu do lado

Do lado da igreja matriz

Com os grandes olhos estatelados

Jorrando sangue pelo nariz

Eu dei por encerrada a peleja

E esse foi meu erro de morte

O homem, aos olhos da santa igreja

Sacou do cinturão o revólver

Eu era mestre de capoeira

O sujeito me atingiu pelas costas

Eu era mestre de capoeira

Agora ’tô em cadeira de rodas”

O que ele me narrou escutei

Seu parecer do bem e do mal

Da capoeira ainda é o rei

E vive de ensinar berimbau

Caco Nemer
Enviado por Caco Nemer em 24/05/2005
Código do texto: T19454