Miguelópolis Revisited

Há tempos perdemos a intimidade

Dessa cidade, conheço as ruas a dedo

Carrego comigo, seus medos, seu pó nas narinas

E da infância, reminiscências e alvitres nas retinas

Sinto falta da bicicleta, do Rio Grande, da bola e do rolimã

Do campinho do Sílvio, da Cohab, da casa 115

Frutas da época: carambola, goiaba vermelha, manga e romã

Saí muito jovem, ainda tinha a mente sã

A Matriz está lá, as velhas e seus escapulários

Defronte ao Bar do Joaquim, sem as árvores, o Santuário

Sua fonte e nos seus bancos ainda sentam corruptos e salafrários

Onde os jovens se encontram e verbalizam sem horário nem dicionário

O Estádio Waldemar de Freitas e suas falhas na grama

A esquina da Nenê não tem mais o pé de boldo nem a roseira

Poucos amigos restaram, besteira

Sou saudosista, que pieguice

Na Socremi, encontrava-me com a Inês, a Fernanda e a Clarisse

Passando pelas ruas retas e largas, olho para o céu a caminho da Marcenaria do Miguel

Ainda desvio dos ciclistas, dos cachorros e das carroças vou escapando

Logo ali, depois da Radio Vale, pelo Cartório do Sr Didi, passo acenando

Lá, algumas coisas nunca mudam, de rostos e lugares vou lembrando...

A loja da Dona Célia, a sorveteria do Florisvaldo, a Casa São José e o Bar do Zé Fernando

Estão todos imunes ao tempo, para minha saudade contemplar

Amigos de infância, fatos, mitos e insights em reentrâncias

Em verdade, com sinceridade, escute-me, vou falar:

Tenho corpo e labor em outro lugar

Mas, foi lá que meu coração nunca deixou de habitar

Marciano James
Enviado por Marciano James em 27/11/2009
Reeditado em 01/02/2012
Código do texto: T1946972
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