Velho tiquetaquear
Escuto aquele velho tiquetaquear, produzido pelo som do relógio;
Que agora, parece ser tão alto e claro.
É uma espécie de tortura lenta e impiedosa;
O tempo não passa, apenas finge dirigir-se a algum lugar.
Enquanto meus planos são quebrados por uma correnteza bravia;
Deixo que minha mente se esvazie até não pensar em nada;
Até não sentir nada, até não ser nada.
Com quanto que eu ainda respire;
Mesmo que lento e dolorosamente;
Deixo que você me leve, que me carregue;
Agora que não consigo andar.
É uma imobilidade, uma imutabilidade;
Tão serena e trágica quanto morrer.
Indolor, mas meus olhos ainda não pararam de chorar;
Deixaram de me obedecer a algum tempo.
É uma sensação de desconforto, de não ter pra onde ir;
De querer muito mais do que apenas respirar.
De destruir tudo o que você sempre quis em apenas um minuto de sono.
E agora, que acordo;
Sentindo-me ainda sem direção – meus sentidos voltando pouco a pouco -;
Apenas avalio os estragos feitos pela tempestade;
Tentando recuperar cada pedaço de mim.
E o que encontro são apenas restos de alguém que fui.
E se existe uma forma de mudar alguma coisa;
De mudar o futuro de alguém que já não existe.
Então, preciso de um milagre.