A MELANCOLIA DOS FUNERAIS
Eu sempre achei estranhos os funerais
Que, há muito vi, com curiosidade e medo
Daqueles que se vão tarde ou cedo
E seguem todos p'ra não voltar mais
Eu não teria a bravura do Augusto
Dos Anjos que transforma víscera em versos
E assim da morte em aspectos diversos
Se decompõe, compondo-os sem susto
Vejo o caixão sombrio transportado
Como se fosse um trem final sem brilho
Que flutuando à uma estrada sem trilho
Leva a esperança de um ser finado
Semblantes tristes são acompanhados
De tenebrosa e vã melancolia
Pois sabem, enfim, concluem que ali um dia
Querendo ou não, serão todos levados
Chega o cortejo rodeado de mistério
Escorre a lágrima irmã de um rosto amigo
Eu, pensativo, curioso e estranho, sigo
A contemplar as dimensões do cemitério.
E no ápice melancólico desse ato
A ansiedade material da cova aberta
Como se fosse a única coisa certa,
Engole o corpo, consumando o fato.
Este poema foi fruto da inspiração da leitura, no ano de 2003, de "Eu e outras poesias" do ilustre paraibano Augusto dos Anjos.
josealdyr@gmail.com