A minha planta verde

só faço as pazes

com a minha planta verde

que embora não seja inocente, é honesta,

e não fala,

não se equipara,

e não se ostenta.

por certo tenho-me em alta consideração,

por me comparar à Natureza.

É só por disciplina e por proveito.

O que se perde na retórica das palavras com os outros!

No diálogo mudo com ela,

apreendo o padrão das coisas na Terra,

que o homem já quase esqueceu.

E na assimetria da réplica

curo o orgulho anárquico do discurso.

A minha planta verde não podia ser humana

porque ela não quereria,

a personalidade que assume

tem a haver com a métrica da existência

e com a exibição do mistério do própria Natureza,

com a estética da matéria.

A minha planta verde é um livro

de muitas páginas,

ora poema, ora prosa

onde me conta sem ingenuidade

o segredo da sensibilidade,

do recato da inteligência,

da sabedoria do silêncio.

A minha ambição não pára,

quero este livro só para mim

e os homens que se lixem

e

principalmente:

-Não me lixem a mim!

Constantino Mendes Alves
Enviado por Constantino Mendes Alves em 17/07/2006
Reeditado em 17/07/2006
Código do texto: T195665