O TEMPO, ESSE IMPOSTOR
O pêndulo balança,
balança em equilíbrio
e o relógio parece inerte,
os ponteiros não andam,
eles fenecem de tédio
em compasso de espera.
Na sala silente
uma réstia de luz
estende as sombras
da escassa mobília.
E o tic-tac medido,
modelado,
cadenciado.
O tempo histórico,
calendários e datas
não correm,
é invenção
da civilização.
Chronos é mentira
inventada,
ordem represada
que esmaga,
oprime
e açoita o incauto.
O tempo tem garras
que destroçam.
Mandíbulas enormes
farejam a presa
e com gestos ágeis
devoram-lhe a carne.
Kairos é o instante
que a flecha
alça o vôo
até seu alvo.
O tempo prometido,
o momento certo
para o encontro.
A vida se mede
na imensidão do ser,
na entrega dos amantes
quando se perdem
no interior do outro,
e a gente canta,
geme,
treme,
freme.