O TEMPO, ESSE IMPOSTOR

O pêndulo balança,

balança em equilíbrio

e o relógio parece inerte,

os ponteiros não andam,

eles fenecem de tédio

em compasso de espera.

Na sala silente

uma réstia de luz

estende as sombras

da escassa mobília.

E o tic-tac medido,

modelado,

cadenciado.

O tempo histórico,

calendários e datas

não correm,

é invenção

da civilização.

Chronos é mentira

inventada,

ordem represada

que esmaga,

oprime

e açoita o incauto.

O tempo tem garras

que destroçam.

Mandíbulas enormes

farejam a presa

e com gestos ágeis

devoram-lhe a carne.

Kairos é o instante

que a flecha

alça o vôo

até seu alvo.

O tempo prometido,

o momento certo

para o encontro.

A vida se mede

na imensidão do ser,

na entrega dos amantes

quando se perdem

no interior do outro,

e a gente canta,

geme,

treme,

freme.

José Luongo da Silveira
Enviado por José Luongo da Silveira em 19/07/2006
Código do texto: T197000