Poema mudo

Uma letra, uma figura

Um vestígio de palavra

Brota na essência do espírito,

Ora tímida, ora avassaladora.

No crepúsculo ou na aurora

De tempos em tempos ou agora.

Beabás de lamentos

Sujeitos indefinidos

Artigos de desejo

Composições num gemido

Na têmpora franzida

Rabiscos sem sentido.

Na junção das palavras

Frases embriagadas

Em intrépidos vocábulos

Que arrebatam as asas

Da imaginação que se alarga

Na imensidão da gramática.

Incansável busca pela grafia

Para a arte sublimar

Mas é tão bela e branca poesia

Que se prima sem rimar

E o poeta geme por sua obra

Tão bucólica e sem par...

Verbos, sujeitos, expressão

Laqueiam o alento do poeta

Encerrando a alma aturdida

Mais uma vez do irrequieto parto,

Embebido de alegorias o poema,

Mudo, mas que fala bem alto.

Lú Garcia
Enviado por Lú Garcia em 19/07/2006
Código do texto: T197441