O TROPEL DE CAVALHADAS

Nos verdes campos do pampa esquecido,

chamado agora de Fronteira-Oeste,

nessas paragens o minuano ainda galopeia

e quando a neblina irrompe em noite enluarada

ouve-se não muito além desse coxilhão calado

o som de clarins e de mouriscas lanças,

que trazem consigo o tropel de cavalhadas.

Lá perto, bem perto da cova de touros,

em meio a pêlos, sangue e o resfolegar das feras

sempre em combates no cio da primavera,

dorme frondoso o velho umbu, da batalha

de Cerro do Ouro testemunha silenciosa,

onde centenas de bravos jazem numa cova rasa.

Nesse rincão de epopéias, revoluções e degolas,

ali bem chegado, no sul do sul - eu nasci.

Lembro ainda e esquecer quem hade

das lendas narradas em torno do braseiro:

fogo de chão, cambona e chimarrão,

sabor amargo que nasceu charrua.

Nessas noites de tertúlias e devaneios

o velho Theodoro com um olhar sombrio proseava

sobre as estranhas histórias de fantasmas,

de almas penadas dos soldados mortos

que sem descanso vagueiam entre taperas,

além da Pedra do Segredo, onde por certo,

o tesouro dos jesuítas está guardado.

Há poucos dias passei na campa solitária,

no jazigo de mármore onde ainda dormem

no Cerro do Ouro os que tombaram na batalha,

ali há um cenário inerte de sensações estranhas

e só o murmúrio do vento abranda o abandono,

como se fosse a sentinela de um tempo findo

dizendo coisas que mais ninguém entende.

Será que com a morte se eterniza a essência

respondendo as perguntas de nossa existência?

José Luongo da Silveira
Enviado por José Luongo da Silveira em 20/07/2006
Reeditado em 20/07/2006
Código do texto: T197753