NOSSO ROSTO - esse desconhecido!

Quando me olho no espelho,

Sempre estranho a imagem

E fico meio confuso.

De quem é este rosto?

- Meu? Não é com certeza!

Mas esse segredo eu calo no peito

Posso ser alvo de pilhéria

Ninguém vai me entender

Quando me olho no espelho

E acho minha cara estranha.

Quando bebê, tinha poucas caras,

E podia ver o essencial:

Via sem estar a pensar,

E se pensava eu não via

- Ora chorava, ora ria.

Hoje se converso com alguém meia hora,

Olho mais para aquele rosto

Do que para o meu em um ano.

- Olho de frente, de soslaio, de banda -,

Será que procuro no outro o meu rosto.

Aprendi ao longo da vida a me comportar

Quase tudo nos rostos dos outros.

Comecei imitando a cara de minha mãe,

Que estava sempre por perto.

Depois outra disponível - a do boneco de pano.

O chocalho me deu cara de espanto.

Na hora de deitar e de ter de tomar banho

(Que hora mais chata e infeliz!)

Passei a imitar o irmão mais velho,

- chorar, sorrir, espernear, se preciso.

E assim sem me perceber tão volúvel

A minha cara foi se tornando tantas

Como a dos rostos todos que conheci

E como as máscaras de um artista,

Em cada uma - um desejo, uma forma, um matiz.

Finalmente aprendi que, no palco da vida,

Devemos ter muitas caras:

A mais conveniente - a de bobo,

A que dá mais certo - a de muitos amigos,

A mais serena – a de reflexão constante.

Mas não podemos abrir mão daquela que diz: eu te amo.

CARLOS VIEIRA
Enviado por CARLOS VIEIRA em 18/12/2009
Reeditado em 19/12/2009
Código do texto: T1985068
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