NOSSO ROSTO - esse desconhecido!
Quando me olho no espelho,
Sempre estranho a imagem
E fico meio confuso.
De quem é este rosto?
- Meu? Não é com certeza!
Mas esse segredo eu calo no peito
Posso ser alvo de pilhéria
Ninguém vai me entender
Quando me olho no espelho
E acho minha cara estranha.
Quando bebê, tinha poucas caras,
E podia ver o essencial:
Via sem estar a pensar,
E se pensava eu não via
- Ora chorava, ora ria.
Hoje se converso com alguém meia hora,
Olho mais para aquele rosto
Do que para o meu em um ano.
- Olho de frente, de soslaio, de banda -,
Será que procuro no outro o meu rosto.
Aprendi ao longo da vida a me comportar
Quase tudo nos rostos dos outros.
Comecei imitando a cara de minha mãe,
Que estava sempre por perto.
Depois outra disponível - a do boneco de pano.
O chocalho me deu cara de espanto.
Na hora de deitar e de ter de tomar banho
(Que hora mais chata e infeliz!)
Passei a imitar o irmão mais velho,
- chorar, sorrir, espernear, se preciso.
E assim sem me perceber tão volúvel
A minha cara foi se tornando tantas
Como a dos rostos todos que conheci
E como as máscaras de um artista,
Em cada uma - um desejo, uma forma, um matiz.
Finalmente aprendi que, no palco da vida,
Devemos ter muitas caras:
A mais conveniente - a de bobo,
A que dá mais certo - a de muitos amigos,
A mais serena – a de reflexão constante.
Mas não podemos abrir mão daquela que diz: eu te amo.