Como uma virgem

Não caminho sobre as águas

Caminho dentro delas

Opondo-me à sua resistência

Em desafio, transformando o ato de adentrar

Num rompimento leviano da quebra do paradigma

Percebendo que me conheço menos a cada dia

Faço um gesto, as mãos em concha

Bebo-te em grandes goles com consciência

Somos um e estou igual em mim mesmo

A mesma substância etérea nos compõe

Não me falta mais nada agora, nem prudência

Por dentro efervescência, por fora, displicência

Não necessito do teu frio, somos iguais em frigidez

Como um camponês, busco o conforto dos verdes campos

Nesse oceano sou só mais um entre tantos

Transbordo-me de felicidade, mas mantenho-me sério

Esse rito me fadiga, traz-me questionamentos existencialistas

Eu, tão grande quanto seus caminhos inverossímeis?

Olho para trás, não vejo rastro

Ficou a chegada

Apenas na areia, à margem

Como uma virgem, sem sofreguidão

Retorno sabendo que o teria quando bem quisesse

Não precisava mais prová-lo, nem tentá-lo e é isso que me ensoberbece

*Baseado no conto: “As águas do mundo” de Clarice Lispector

Marciano James
Enviado por Marciano James em 21/12/2009
Reeditado em 24/01/2011
Código do texto: T1989270
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