Ponto de fuga

Um dia vou traçar uma reta
uma linha incerta
à mão livre... no sentimento
e nesse momento
por ela seguir
sem o recurso da régua
vou deixar fluir...
será minha trégua
numa estrada em aberto
meu croqui em aquarela...
e se um vento invadir os meus traços
as folhas encobrirem meus passos
uma ventania revirar meu papel
e um grão de areia virar um cisco
eu pingo uma lágrima do pincel
prá enganar a dor do risco
e sigo em frente
em busca do tal infinito
num azimute qualquer
numa linha do horizonte
e num ponto de fuga
encontrar um refúgio
um bater de asas na tela
branca azul ou amarela
que aos meus olhos possa surgir
como a janela de Adélia
e quem sabe por ela
eu possa fugir?

(... Ô janela com tramela, brincadeira de ladrão,
clarabóia na minha alma,
olho no meu coração... Adélia Prado ) 


ilustração: desenho Cristina Nunes
versão com desenho da poesia Ponto de Fuga publicada em 02/02/2006