ÉDIPO REI

Os dedos na borda do precipicio /

O salto / o medo / o grito /

Ò pequeno Édipo Rei /

Ò imenso fora-da-lei /

Chegaste à tempo para a esfinge

Que por dentro te tinge

De materna cor /

Teus olhos sem juizo arrancados por dentro e fora /

Rompeste o segredo da madrugada /

Tingiste a aurora /

A humana raça de ti precisava / ò desvirginador da dor /

Quem sabe do que te ocupas agora /

Insanas mensagens que a alma deflora /

Ò imenso Édipo Rei /

Ò pequeno fora-da-lei /

Teus filhos e filhas /

Unhas cravadas no dorso da ilha a que chegaste /

Andas por cadeias de montanhas de carne /

Trafegas por entre barracos e casebres /

Tens fome /

Tens febre /

Arde o peito esquecido e doído pelo amor ocupado /

Sabia quem da tragédia que não te anunciou?

Ò velho que ao morto reza o que devias em vida /

Quem te condena em cena / no palco /

Reduz em pouca monta tua mortal conta

Que pagarás eternamente /

Ò Imenso Édipo Rei /

Ò pequeno fora-da-lei /

Acoplado à fonte virginal /

Peça soldada ao material-vida /

Nem atômicos entendimentos te separarão /

Teu coração /

Peça única /

Geme e implora pela morte que demora.

Preto Moreno