NÓS SOLTOS

Temo a sensibilidade exagerada

que turva o olhar

com o prisma lacrimal

mas saboreio avidamente

o desabafo pela torrente agridoce

que lava o rosto

e leva consigo o desgosto

e a tristeza d´alma.

É grande o risco de caminhar

por entre nuvens.

Viver já é deliciosamente perigoso

para quem, estando em terra firme,

enxerga orquídeas e leões

no céu azul de cirros e cúmulos.

Em cima do muro é covardia.

Contudo, se declinas à direita,

teu semelhante te corrompe.

Se te entregas à esquerda,

Algum bicho te come.

E se preferes sete palmos abaixo,

galgas, então, ao nada

repleto de absurdos dantescos.

Subindo um degrau

é preciso cair

para conhecer a vitória

porque o doce não é tão doce

se não provares o amargo.

No escuro, quero a luz

O dia nasce ensolarado e,

ironicamente, anoiteço

sem perceber que

realizado tão plenamente

foi o meu desejo e,

escandalosamente, não agradeço.

Perdoai-me, sabe lá eu o que digo?

O que escrevo?

O que faço?

Trato de amar e em seguida odeio

o que era lindo, agora é feio

os elefantes podem ser cisnes

basta ver diferente o que Dali

em tinta pensou.

Tudo é perfeito, seja mais atento

e não coloque defeito

O céu de Monet tem sabor de baunilha

E o seu? Que gosto tem?

Um palmo diante do nariz é mediocridade

O infinito é ideal e insana (a)normalidade.

Lembrai-vos que caminho sem pedras

a lugar nenhum leva

porque não existe

é doce ilusão

Vais à janela

A vista de lá costuma desintegrar

portas trancadas e manter distante

os fantasmas da mente.