QUATRO SONETOS
AMOR, SEMPRE AMOR (1)
Francisco Miguel de Moura*
Eras tu a mais linda da cidade.
E eu cheguei, um matuto impertinente,
apelidado até de inteligente
por colegas, amigos na verdade.
Teus sorrisos me enchiam de vaidade
e àqueles que te tinham de inocente,
e a mim me enfeitiçaram de repente,
como ninguém calcula. Ninguém há de
saber o que lutei para ganhar-te,
para querer-me ali, e em qualquer parte,
e, enfim, nos enlaçarmos com ardor.
Fogo em que conservamos, te asseguro,
a minha felicidade e o teu futuro
para viver tão puro e santo amor.
AMOR, SEMPRE AMOR (2)
Mudam-se tempos, vidas e pesares,
mas, como outrora, a amar continuaremos.
Amo-te mais, não queiras nem saber,
amas-me mais, agora é como sempre.
Se outrora caminhamos de mãos dadas,
era o medo do mundo e suas garras.
Já hoje nos soltamos pra andar juntos,
pra mais amar, que o nossa amor se aclara.
Teu corpo de menina e de mulher
que tanto outrora já me deu ciúmes,
hoje é prazer e graça como nunca.
Sendo eu feio, invulgar, e tu, tão bela,
formamos lindo par por toda a vida
e abraçaremos outras se inda houver.
SONETO DE VÉSPERA (3)
(Para Mecinha, no 6º aniversário)
O que sentes não sei. Como saber
o que vai n’alma de uma criatura
ainda tão pequena, inda tão pura,
que amar se faz e tenta compreender?
Sei que sinto por ti muita ternura,
muita vontade de por ti fazer
o que possa e não possa, até morrer...
E vejo neste amor uma loucura.
És toda a floração de uma beleza
cheia de risos, dengos e caprichos,
Mas também de perfume e singeleza.
Só peço aos céu e deuses, em seus nichos,
transformem a alegria, hoje tão sã,
nas tuas realizações do amanhã.
MILAGRE DA DIVISÃO (4)
A burguesia é tonta de ganância;
somando, multiplica bens de terra.
Dá, egoisticamente, em abundância,
à traça. e tudo em podridão se encerra.
Por isto eu lembro o tempo do Messias...
E a multidão faminta por justiça,
vendo Jesus trazer melhores dias,
vergastando o orgulho, a vã cobiça.
E hoje arrenego quem, pelo egoísmo,
lança o mundo em miséria e confusão
e espezinha de Cristo o catecismo.
O bom Jesus deu mesa à multidão
com sete pães. Bendito qualquer “ismo”
que multiplique e faça a divisão.
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*Francisco Miguel de Moura, poeta e tradutor brasileiro, também romancista, contista, cronista e crítico literário. Tem 30 livros publicados e colabora na imprensa do Brasil inteiro e em alguns órgãos de Portugal, Espanha e França.