Síncope
Está tudo escuro, nem a luz deu o ar da graça;
nem ela teve coragem de aparecer por aqui hoje.
Talvez o medo espante até mesmo a luz.
A esperança já correu dele há tempos. Maldito.
Tudo parece tão pequeno, o ar parece ter sumido.
Não tem espaço para ele. Até o coração resolveu
desistir e parar por um tempo. Quem sabe
para dar um descanso aos fadigados pulmões.
O medo os inibiu, coitados. Pobres coitados.
O medo. O medo nos inibe, nos intimida. Então
aparece a covardia. Covarde seja o medo! E vós;
sois covardes também. O sangue é covarde,
o sangue que cobre as calmas ruas, as ruas inocentes.
Mas não, o sangue não tem medo. Ele é covarde.
Quem o instiga é covarde. Eles são, ah! eles são
covardes. Perderam o bom-senso, esqueceram
dos ensinamentos d’Ele. Se é que me permite falar
d’Ele, pois Ele é vosso. Ah! a covardia imposta
através de Seu nome. Pobres homens, sois quem,
Ele? Mas que blasfêmia! Ele fala por vossas bocas?
Acordai! Quem sois? Sim, sois covardes. Perderam
também as faculdades mentais, não é possível.
Não sois cruzados. Sois peregrinos de barba com
uma coxa de peru nas mãos, a taça de vinho na mesa
e um riso maléfico nos lábios. As vidas não valem
mais do que vossas escrituras; as vidas não valem
mais do que vossas jóias e vosso negro óleo.
Pelo menos respeitastes vosso instinto, pobres animais.