A DESCIDA,, DESCER - 2 Sonetos

A DESCIDA

Francisco Miguel de Moura*

Conte, ó homem, vitórias e vitórias,

do seu tempo de estradas percorridas

mas não olvide lutas que, vencidas,

foram derrotas d’outros, são histórias...

Em ninharias vãs e em brincadeiras

desconhece que as horas bem vividas,

conseqüência de lutas mal vencidas,

são mentirosas, falsas e grosseiras.

Sem pretensão a enfrentamentos sérios,

não quis pensar na espreita dos mistérios:

A velhice, a doença e o mais profundo

dos mistérios, o desamor... E a morte

com ais sentidos, vem-lhe trazer flores

que a lei da vida enterra num segundo.

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DESCER

Francisco Miguel de Moura

Quem conta mal-contado o que ganhou

Em toda a juventude e meia idade,

Olvidará detalhes e a verdade

De quantos para trás então deixou

Sem perceber que o mundo é um robô

Que nos encanta enquanto movimenta,

Mas irrita a criança e lhe é tormenta,

Se descarrega a pilha, se apaga, ou...

Desmantela-se em parte a estrutura,

Pois que não é, decerto, uma criatura

Valente, ousada e até, talvez, covarde.

Enfim, maduro o homem, talvez doente,

Sente que a dor, no fundo, é consequente

E é tarde arrepende-se. É muito tarde!

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OBSERVAÇÃO: Partindo de um soneto antigo sobre o mesmo tema, o Autor construiu os dois acima e abandonou o primeiro. Este exercício mostrará quanto é útil e saudável a reescrita. Depois de certa idade, ou quando na maturidade, o autor mais rescreve do escreve.

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*Poeta brasileiro, mora em Teresina, PI, Brasil. É membro da Academia Piauiense de Letras - Teresina, PI; da União Brasileira de Escritores - SP; e da International Writers and Artists Associatino, Estados Unidos.

E-mail: franciscomigueldemoura@superig.com.br