Ad Infinitum

Tenho dois sóis lá fora...

Talvez mais... foi tudo o que pude ver até agora

Tenho luas gigantescas e esplendorosas por todo esse céu...

Duas minguantes e uma Cheia

Cada qual em sua amistosa melodia

Dançando e ilustrando vagamente essa minha última ceia

Confortando ainda mais essa minha agonia...

É agora que quero existir,

Contribuir de algum modo à esses meus medos...

Tenho uma brisa constante que vêm do norte...

E uma chuva incessante que virá do sul...

Mas aqui, por enquanto, predomina essa minha má sorte,

O céu nublado e negro, logo apresentará uma nova cor azul...

Tenho palavras que nunca deveriam ter sido ditas,

Escondidas nos fundos de uma gaveta...

Trancadas com o selo do esquecimento...

Com o implacável selo do tempo...

Mas algumas delas recusam-se a voar ao vento...

Voem para longe e me deixem sorrir,

Fluir na imensidão desse meu particular planeta,

Onde meu melhor amigo se manifesta em forma de cometa...

E conversamos por horas inteiras,

Eu, ele e as estrelas... que nos contam segredos,

E curam meus medos, só em um piscar...

Fecho os olhos devagar...

E adormeço com a melodia serena do mar...

Que me traz sonhos através dos sonhos,

E as estrelas entrelaçam a minha exuberância diante do céu...

E me cobrem sutilmente com seu esplendoroso véu,

Que me aquece até o raiar de um novo dia...

Onde novamente dois sóis e meu eu se deliciam...

Tenho dias inteiros de meditação,

E noites onde nem se bate o coração...

Danço em meio aos tons e melodias coerentes,

Da floresta do riacho de fracas correntes...

Onde nadam sutis os peixes... formando-se assim uma tangente

Místico é o desejo do vento,

Que sussurra em meu ouvido o segredo do mar...

Agora já sei até onde posso caminhar...

Tenho montanhas tão altas quanto o próprio céu

Algumas cobertas de neve e desejos,

Outras cobertas pela grama fina, linda em puros gracejos

E árvores, que das folhas, brotam o mais puro mel...

E incomparáveis são seus frutos

Poucas, muitas poucas palavras caberiam em tantos atributos

Meu eu caminha por entre as pedras,

Mas se mantém oculto...

Tenho roupas no varal que já deviam estar secas,

E uma alma límpida cravada num céu,

Onde as aves voam em linha reta...

Rumo à algum lugar mais calmo e mais quente...

Envolvente... onde o calor da alma seja transparente...

E a água flua devagar, em uma única melodia,

Guiada pelo som sereno da brisa por entre as folhas das árvores...

Tenho um mar vermelho diante de dois sóis...

Que se multiplica em ondas...

Na praia, após o crepúsculo;

As estrelas visitam a areia,

Dançam calmamente em volta da lua cheia

E desenham figuras ainda incompreensíveis para mim...

Chuvas, sóis, luas e estrelas...

Um mundo inteiro meu, e sem fim.

Tenho uma casa onde puder imaginar

No topo da mais alta colina do vale,

Ou até mesmo no fundo do mar...

Tenho como limite a minha imaginação,

Que se torna infinita,

A cada batida do coração...

Tenho milhões de cores aos olhos...

E bilhões de pigmentos maiores...

Já posso enxergar além do horizonte...

A minha luz de hoje é bem maior que a de ontem,

Já posso entender cada gesto desse meu mundo...

E entendo o que a vida representa,

E o sentindo que ela tem bem à fundo...

Minha dor já se converteu em algo mais profundo,

Agora já posso amar alguém com tudo que tenho,

Já posso me tornar o deus de meu Mundo...

E assim conhecer o infinito...