Soneto da (de)composição

Murmuro, pois, ao cárcere que assiste,

A viração dorida, qual ao sepulcro, imita,

Ai! O bálsamo desta queixa inaudita,

Mantém desperta minha pestana triste.

Enaltecida, torno, esta lograda folha,

Nela repouso a mão fria, o olhar deserto.

Que restará do engenho neste calcar incerto,

Se nada se cria que a morte não colha?

De palor me cobre, o peito, em fina bruma,

A agonia distinta, ainda que olvide, esmaeça,

Transborda-me feito colérica espuma.

Se n´alguma ventura, a brasa em mim feneça,

Deixai-me um resquício, sequer cousa alguma!

E no ventre da terra me abandone e esqueça!

Myrna RRP
Enviado por Myrna RRP em 26/07/2006
Código do texto: T202788