Em Asas Negras

Hypno me embala,

Morpheus me acalma,

Flutuo docemente,

Pelos rios do nada.

Ao melhor dos mundos possíveis,

Doces ilusões, imagens incríveis.

Eis a terra dos desejos realizados,

Dos mil amores impossíveis.

Aos sonhos mais profundos,

Por mão angelical sou guiado,

Além de vales e de sombras,

Dos medos e do passado.

Com certo pudor,

Discreto rancor,

E indiscriminada admiração,

Vislumbro um desejo infantil.

Um sonho alheio,

Simples e perfeito.

Sorrisos e olhares,

Que não são meus.

Fui tão maculado?

Joguei dados errados?

Ou o sonho é imperfeito,

E não vi os dois lados?

"Pobre sonhador desesperado"

Disse uma voz eterna e vazia.

Hypno abriu suas asas negras,

Na torpeza do dia fui atirado.

Lembrando do sonho,

Que não era meu,

Mas que me mudou.

Já nem sei quem sou.

Se poeta, se louco,

Se apenas sonhador.

Se de tudo um pouco,

Ou se nada restou.