O QUE PASSOU, PASSOU.

Chega de pedregulhos avessos que se vestem de fadas,

como se soubessem o que pensam os nossos rios,

como se quisessem dopar as ancas do nosso mundo.

Chega de mechas de melado suburbando os medos,

fardos que não dão para suportar nem afagar,

gazelas soltas em pleno cio sem fraldas nem facões.

Vejo disso um pouco de mim, de nós, de tudo,

sinto que você não está mais bêbada do que sempre te vi,

sinto que você não está mais rasgada como sempre te jorrei.

Chega os botões da sua boca com a pressa do gozo,

esperando seu pouso como se quisesse amparar sua fé,

querendo repartir um pouco do seu mingau sem que você sinta falta.

Mas vejo que está ficando tarde, estamos caindo de maduro,

apesar de todas varandas sempre ficamos dentro de cas,

mas mesmo assim conseguimos converter a dor de nossas

câimbras em vozes não paridas.

As nossas sentinelas estão agora mais bruscas, mais ciganas, mais sacanas,

sei que dará para a gente renovar o nosso passe de vida e nossas

máscaras mais infames,

sei que dará para brindarmos as nossas fraldas, as nossas risadas e as nossas mais fugidas emoções.

Vamos em frente que conseguimos domar aquele fogo que fez o fim chegar antes da hora,

vamos em frente que temos muito ainda para surrupiar das mentiras que nunca falaremos para o outro,

vamos em frente que o nosso chão está agora mais seco, mais rígido,

mais rocha, mais tocha.

O que foi, passou, que nunca mais venha nos assustar pelas costas, nem pelas frestas,

o que foi, passou, que fique enterrado putrefando suas vísceras até o tempo dizer chega!

o que foi, passou, e a gente agora tem tudo de bom para germinar nas

entranhas que ainda não nos surrupiaram.

E que agora, com certeza, serão o nosso mais querido, mais ungido e mais delicioso cenário de amor. Pra todo o sempre, amor.