Aborto
Dispa-me do seu corpo...que ele
já não lhe serve
Essa medida acho que nunca me valeu
O seu corpo esfriou...e o meu ainda ferve
Não mais existe você e eu
Sobraram espaços entre os braços
Tuas mãos não alcançam minha cintura
Soltaram-se os alinhavos dos pedaços
Depois dessa conversa linha dura
O que já andava desbotado
Esmaeçeu de vez
Porque já havia esgotado
Na minha tez
Toda tinta da sua pele na minha tatuada
Não deixe os cacos embaixo o tapete
Nem leve a alma amargurada
Os lanhos dessa nossa parede
Não interessa a quem vai entrar
Leva suas dores e sua falas
Esqueça o meu tartamudear
Não é mais em mim que calas
O seu senhorear...
Anoiteceu entre nós dois
E essa pele não nos cobre o corpo
Nem agora e nem depois
Somos barcos longe do porto
Carentes
E sobreviventes
Desse amor em aborto...