Despersonificação
Passo os dias a escrever, as noites a reescrever,
para quê, meu deus, para quê?
Por que essa ansiedade, pecado dos saudosistas;
por que essa angústia, mal dos que amam?
Por que essa fé, fraqueza dos dependentes?
Se nem confio mais em mim mesmo,
nem em minha própria sanidade?
Incompreensão, diriam algumas pessoas
- inclusive Pessoa,
mas não me considero um incompreendido.
Penso que apenas escrevo por escrever. Assim, por costume.
Quem sabe para ver se o alvo papel que jaz à minha frente
sente, a cada deslizar da minha caneta,
as dores que eu não consigo sentir.