ILUSÃO PASSAGEIRA (Magreza)

A tua magreza

me espeta e desperta em mim

a grotesca imagem de um fantasma doente...

convalescendo e mordendo as unhas

como quem se alimenta do sangue dos dedos!

Teus olhos me olhando do fundo do crânio

não têm mais aqueles raios ofuscantes

que deixavam tontas as carícias e

queimavam em façanhas o pudor,

provocando soluços de dor, arrepios de horror!

Atraentes como os olhos das cobras,

como os seios das donzelas,

como o quarto dos amantes,

como o prazer dos casais!

- Morres... morres... morres...

com o tempo corroendo os quadris...

derretendo os ossos,

recolhendo as vísceras,

desmantelando o todo,

dissecando o cadáver

antes mesmo, do desfalecer!...

- Ao passar por ti, mesmo transparente,

numa transversal da Avenida

foi como se uma porta a ranger

anunciasse a tua presença,

que o vento soprou... soprou... soprou...

e fez poeira... poeira... poeira!

Ao te olhar de frente

desapareceste como um supersônico;

tropeçaste num palito,

mergulhaste nos detritos dos venenos dos canos

e na multidão te desfizeste.

- Serias capaz de reconhecer agora

a infinita crueza das tuas loucuras?

Já me fizeram crer,

já me mandaram dizer...

no entanto, procuro te querer

como se não estivesses mais aqui!

Oh! Ilusão passageira,

ofegante e rasteira!

Sai, sai, sai, sai,

te desfaz e vai!...

Zecar
Enviado por Zecar em 28/05/2005
Código do texto: T20376