A Casa abandonada (continuação) II Pinheiro
Em volta do pinheiro novo,
ainda a rábula esquecida, o saco roto,
fendidos de memória, a rola, o canário, o pombo.
Todos tinham a infância perdida,
a bola saltando, a casa em ruínas.
foi visitado em família, a gravata amarela com riscas,
guardado.
recolhido, endeusado, o menino ria.
Agora já se pode fazer turismo,
beber coca cola, ponto barra barra.
Com as pinhas faziamos o fogo, agora lareira,
o pinheiro à nova janela.
Com estes aqueles bolsos rotos, cumpria.
Agora bandeira na floreira.
Deixávamos a rua , ainda havia outra, ladeira.
Quem pode ficar doente, a que preço?
os rostos completos em risco, carvão.
todos discutindo cerveja, a mulher baton,
mais promessas, agora descomplexos,
virtuais passados, quarentas e tais.
ninguém a quer, a casa.
quero amar bonito, fazer cera,
desculpar-me qualquer coisa,
a parede branca o íngreme do pinheiro.
Todos ficámos olhando para ele,
parecia mais verde,
que se queria tocar, todos mais novos
tão brancos e já puros, novo.
ficaram as cinzas da braseira, Inverno,
aquela chuva, a torrente de lama,
o que se fazia, o pão, a merendeira.
A manteiga promissora , a nova lenda.
Josefina tão magra, agora bela,
apetece tomar banho verde claro,
tão perfume, tão automóvel,
tão plasma, aquele catecismo horrível,
a fé tão bela.
Que não há conversa, telenovela,
um Portugal sem flanela, e esta ferida,
ferida, que eu encho de tão água.
E se a porta se abre , se a tormenta da figueira,
se faz mais árvore se fica ela,
se não se sabe o que fazer da frigideira,
põe-a à janela, para a vista do pátio,
ao pé da garagem, de quem vai de lá
para o pinheiro.