A Casa abandonada (continuação) II Pinheiro

Em volta do pinheiro novo,

ainda a rábula esquecida, o saco roto,

fendidos de memória, a rola, o canário, o pombo.

Todos tinham a infância perdida,

a bola saltando, a casa em ruínas.

foi visitado em família, a gravata amarela com riscas,

guardado.

recolhido, endeusado, o menino ria.

Agora já se pode fazer turismo,

beber coca cola, ponto barra barra.

Com as pinhas faziamos o fogo, agora lareira,

o pinheiro à nova janela.

Com estes aqueles bolsos rotos, cumpria.

Agora bandeira na floreira.

Deixávamos a rua , ainda havia outra, ladeira.

Quem pode ficar doente, a que preço?

os rostos completos em risco, carvão.

todos discutindo cerveja, a mulher baton,

mais promessas, agora descomplexos,

virtuais passados, quarentas e tais.

ninguém a quer, a casa.

quero amar bonito, fazer cera,

desculpar-me qualquer coisa,

a parede branca o íngreme do pinheiro.

Todos ficámos olhando para ele,

parecia mais verde,

que se queria tocar, todos mais novos

tão brancos e já puros, novo.

ficaram as cinzas da braseira, Inverno,

aquela chuva, a torrente de lama,

o que se fazia, o pão, a merendeira.

A manteiga promissora , a nova lenda.

Josefina tão magra, agora bela,

apetece tomar banho verde claro,

tão perfume, tão automóvel,

tão plasma, aquele catecismo horrível,

a fé tão bela.

Que não há conversa, telenovela,

um Portugal sem flanela, e esta ferida,

ferida, que eu encho de tão água.

E se a porta se abre , se a tormenta da figueira,

se faz mais árvore se fica ela,

se não se sabe o que fazer da frigideira,

põe-a à janela, para a vista do pátio,

ao pé da garagem, de quem vai de lá

para o pinheiro.

Constantino Mendes Alves
Enviado por Constantino Mendes Alves em 28/07/2006
Reeditado em 29/07/2006
Código do texto: T204194