REPARTIDO II

A dor, orquídea e perene, vem

da cidade em que nasci.

A cidade em que moro me salta a dor.

Lá eu tive todos os sapatos e botinas a calçar.

Cá, de chinelos e alma, faço poesia espaçada.

Aonde nasci, tenho uma sepultura a me comemorar.

Cá, a vida segue com vocábulos que me tiram o sangue.

Não sou daqui. Nem sou de lá.

Nem me sinto jogado à margem do rio.

Nunca serei este peixe.

Se a rima for, em mim, uma quimera solidão,

trago-me, então, como um feixe.

Sou mesmo um cidadão do mundo de dois quartos e sala.

Em sonhos de porão.

2006

Sítio de Poesia

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ALFREDO ROSSETTI
Enviado por ALFREDO ROSSETTI em 29/07/2006
Código do texto: T204493