Rua XV

No caminho em preto e branco

De pedras em pedaços

Aterradas em faces

Coloridas e sombrias

A cada passo um som

A cada som, um pranto.

Vejo chorinho de saudade,

Tango querendo voltar à mocidade

Nas cordas dos violões,

Caras carrancudas e moças tristes

Vendendo vida parada nos quadros

Gente que se parte de tanto rir,

Gente que chora, fingindo sorrir,

Mesmo que não haja pernas pra seguir

Com olhos cegos que ninguém enxerga

Uns deixam seus perfumes no ar

Outros sujeitos às suas transformações

Sol quente, ardente,

Chuva precipitante...

Trovoadas de lamentações

O mundo gente

Caminha no tapete preto e branco

Homens coloridos tentam improvisar alegria

Dos outros cercados de melancolia

A fama encena o drama

Dos artistas sem lucro

Em nomes estampados em papelão

Nos pilares dos edifícios

Esconde-se o chão da humanidade

Há um homem ali,

Enrolado entre cobertas e poeiras

Encolhido com a aflição

A cada esquina, senhores

Com a voz misericórdia

Pedindo esmolas de atenção

A cada rua que corta

Vem um menino de braços gélidos

E mãos nervosas

Com a esperança morta

Apontando indignação

O passado escuro suja

As mãos do presente

Essa lama preta

Desfigura o branco.

E o futuro?

O futuro está cinza

À beira da calçada.

Daniel Pinheiro Lima Couto

15/06/06