Réquiem para uma cidade entre o caos e o desejo

Sou um palhaço sem futuro

Tropeçando pelos becos

Dos prostíbulos encharcados

Se descascando sob a chuva

De facas, fel e foices

No submundo dos excluídos

Em meio ao bombardeio da ganância

Contra mim latem os cachorros

Com quem disputo o meu almoço.

Entre mendigos, cheira-colas,

Prostitutas e bandidos,

Eu degusto o que nos sobra dos banquetes dos poderosos.

De onde vem o meu sorriso?

Da mais profunda ironia no enxergar dos absurdos.

Ai meu Recife, quantos medos e desejos de ti eu construí.

Entre a surpresa da altura imponente dos arranha-céus e

O sofrimento absurdo

Dos manguezais soterrados.

Meu sorriso vem da força pura da marginália em movimento.

Entre o desejo lancinante da utopia e a fria realidade.

Do meu sarcasmo de saber que as vitrines

São limites entre dois mundos.

O dos que querem

E o dos que podem.

Ai, ai Recife, picadeiro em chamas,

Ensaio um novo sorriso entre os escombros.