REQUIEM AETERNAM
“(...) Supliquei, pedi um sinal, enviei mensagens ao Céu: nenhuma resposta. O Céu ignora até o meu nome. Eu me perguntava, a cada minuto, o que eu poderia ser aos olhos de Deus. (Jean-Paul Sartre)”.
Numa tarde morna de céu embaçado,
nos despedimos da mulher forte
que se chamava Maria, Maria de Lourdes.
Partiu sem dizer nada como silenciosa viveu,
e foi embora deixando apenas a demorada ausência
de um mundo generoso que partiu com ela.
Todos querem explicar esse crepúsculo tristonho,
desvelar o eixo estruturante da própria vida,
se pródigos que se descobrem longe de casa
ou flâmulas que tremulam ao sabor da sorte?
Entre os filósofos a discussão é interminável:
a vida faz parte de uma essência imutável,
ou o homem é apenas um ser individual
jogado no mundo, proscrito e desamparado.
Os teólogos apresentam-na como sinfonia
inextinguível, cuja diversidade e plenitude
não se pode perceber com um espírito coxo,
e rejeitá-la, em quaisquer das suas dimensões,
seria a medida de nosso próprio fracasso.
Cada um sente a vida a seu modo,
o ladrão, a criança, o lavrador
dão-na o valor que lhes convêm.
Já o poeta, esse desvairado,
atravessa a vida juntando retalhos,
e guarda-os no próprio bolso,
como se escondesse pedaços de estrelas.