REQUIEM AETERNAM

“(...) Supliquei, pedi um sinal, enviei mensagens ao Céu: nenhuma resposta. O Céu ignora até o meu nome. Eu me perguntava, a cada minuto, o que eu poderia ser aos olhos de Deus. (Jean-Paul Sartre)”.

Numa tarde morna de céu embaçado,

nos despedimos da mulher forte

que se chamava Maria, Maria de Lourdes.

Partiu sem dizer nada como silenciosa viveu,

e foi embora deixando apenas a demorada ausência

de um mundo generoso que partiu com ela.

Todos querem explicar esse crepúsculo tristonho,

desvelar o eixo estruturante da própria vida,

se pródigos que se descobrem longe de casa

ou flâmulas que tremulam ao sabor da sorte?

Entre os filósofos a discussão é interminável:

a vida faz parte de uma essência imutável,

ou o homem é apenas um ser individual

jogado no mundo, proscrito e desamparado.

Os teólogos apresentam-na como sinfonia

inextinguível, cuja diversidade e plenitude

não se pode perceber com um espírito coxo,

e rejeitá-la, em quaisquer das suas dimensões,

seria a medida de nosso próprio fracasso.

Cada um sente a vida a seu modo,

o ladrão, a criança, o lavrador

dão-na o valor que lhes convêm.

Já o poeta, esse desvairado,

atravessa a vida juntando retalhos,

e guarda-os no próprio bolso,

como se escondesse pedaços de estrelas.

José Luongo da Silveira
Enviado por José Luongo da Silveira em 30/07/2006
Código do texto: T205515