A Casa abandonada VII Divã

Foi o mais difícil de levar.

O sonho, o sonho de voar, feito daquele cadinho,

do pai, a mãe e o seu carinho. A promessa, a jura.

Toda a fé pura,

Misturadas, depuradas, entrecortadas,feitas na ambição sexual.

Na vida, na obstetrícia do adulto,

Que era preciso mudar.

Fica-nos na garganta outro divã no lugar.

Mesmo à mesa em famíla, o divã ocupa o topo,

Faz-se Freud na história para dormir.

Esquece-se o divã do jogo primário, inicial,

Dos relâmpagos das portas batendo,

Do amor jorrando, da catarata sexual.

Estamos velhos depois de um dia de boca aberta,

De acendermos um cigarro, de olharmos a lua de manhã.

Ficamos quites com a noite, dormimos para o lado do despertador.

Que se fique sem o rio da nossa terra, que se cresça na árvore de pedra,

Vá-se por essa rua fria.

A vida apesar de tudo são pouco tempo se calhar.

O Windows explica isso melhor que ninguém,

A depressão é necessária sem isso não havia Adilia Lopes, Pessoa

Se calhar não havia poesia, História. É isso que me faz

Também quando passo na casa abandonada, preciso dela,

Por favor.

Tudo se transforma no aço gâmico das palavras. Agora fogo.

Quero a chita do divã, bolor

Que se abra a escrivaninha, tudo no duplex em plástico

Com rótulo. Quero a chave no bolso ao pé da moeda do supermercado.

Tudo excelente Sr. Ministro, tudo farei para ser mais pobre, obrigado.

Já não dou pontapés nos Mercedes, já faço jogging na sueca.

Só não me deixem ser voluntariado na AMI, há lá um arquitecto, coitado.

Pode ser? Obrigado,

Já estou sentado no divã!

Constantino Mendes Alves
Enviado por Constantino Mendes Alves em 30/07/2006
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