Camaragibe revisitada

Camaragibe terra da mata verde

Em que minha alma ecoa

Entre Curupiras, mãe-d’águas e fulorzinhas

Nas folhas vespertinas de um

Outono esquecido

Sou tua fibra espalhada no vento

Entre os sibilos dos insetos invisíveis

Do universo sonoro e atemporal

Eu te espio nu sobre a telha do satélite

Acaricio e bolino teus morros

Como em mim mesmo afago e flagelo

E no barro em que minha carne

Antes pó de sílica argilosa

Renascida de tantas cinzas

Larvas de vulcões extintos

Calada e meticulosa

Vai pelo mundo afora

Sem pretensões de semente

Nem aridez irrigada na saudade

Apenas desejos exalando pelos poros

Daquela maciez de estar entre seus braços

Vento de que vem de São Lourenço

Cúmplice e límpido em que flutuo

Sou pipa colorida e desgarrada

Motivo de corrida desesperada

De meninos felizes pelos teus cabelos

Lembrando sonhos nos quais flutuei

Torrentes de amores do passado

Passionalmente lançam ciscos nos meus olhos

Pesares que sofri em silêncio

Mas massageando meu rosto

Com tuas mãos de fada

E sopro de bálsamo

Teu canto é suave refúgio

Nas canções dos sanhaçus esverdeados

Eu ressuscito

Sou água entre teus dedos

Açude do Timbi finado

Em que peixes betas azuis incandescentes

Meio aos aguapés, submergia

Toda dor e angústia da vida

Camaragibe, Capibaribe, Pedra da Baleia

Por onde a linha férrea em equilíbrio

Conduzia meus passos em busca de mim mesmo

Translucidamente o meu destino

Na limpidez de tuas águas

Encontrava a paz que cultivava

Em qualquer caos do universo em que me via

No rosto de tua gente

Minha morada e remorso

Meu sorriso de retorno

E teu olhar de consolo

No entanto sou tua palavra solta

Sem paradeiro nem freio

Verbo fácil desbocado e sem limites

Lancinando todo óbice

Que nos antepor deste olhar eterno

Em doce língua de foice

Em lânguidos punhais de dedos

Balas de sílabas perdidas

Nos conflitos tristes de toda nostalgia

Estarei proferindo incansavelmente

Esta paixão que morrerei sentindo