LUCIDEZ?

Apresento minha reluzente lucidez
perpetuada na gravidez
do pecado original,
vem numa prateada bandeja,
nesse mundo muito louco, louco
o meio enseja, almeja
o tudo, o muito, mas dá o pouco
onde se disfarça tanta desfaçatez,
dissimulo também minha timidez.

Apresento minha lucidez,
no meio dessa sociedade infernal, tão desigual,
borboletas consagradas,
voam desregradas, apavoradas,
sob a mira do incansável caçador;

Voam borboletas, voam! voam!
Voam para o planalto das ilusões!
Voam para o bordel das decepções;

Fogem assustadas das alfinetadas,
procuram refúgio seguro
no ombro nu da minha sensatez,
porém é esconderijo frágil
contra o passo ágil,
da inconseqüência da vez.
onde anda nossa lucidez?

Você me diz qualquer coisa, que fica no ar,
eu sei que você me diz,
sintonizo vozes que correm no chão,
neste “chão de giz”,
o inimigo é real e anda a solta
fotos no jornal, imagens na televisão
só comprovam a insanidade
destes animais
que exploram a sensibilidade,
não ouvem os reclamos, nem meus ais.

Fujo da face da loucura
da demência, da inclemência,
você fala contra mim
faz-se atriz com reverência,
contra minha irreverência,
tento vencer minha timidez
mas você a expõe em completa nudez,
assim é minha lúcida, lucidez,
minha negação
minha lúcida razão,
quando o sim vira não,
e o não ... este não desvira não.

ANDRADE JORGE
10/03/06
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