Paz ameaçada

Sento no sofá, de noite, acendo um cigarro

Boto um som e fico relaxando frente à janela

Que se abre para um mundo perto de tudo

Exceto de mim

Depois levanto, dirijo-me até a cozinha

Abro a geladeira e pego a única garrafa de vinho que encontro

Vinho barato, certo... mas e daí?

Então pego um copo de vidro

Daqueles copinhos de extrato de tomate

E encho até a borda com vinho tinto doce barato

Em seguida volto à sala com meu copo de vinho tinto vagabundo

Troco Janis Joplin por Billie Holiday

Acendo outro cigarro

Aí deito no sofá, fumo um, dois, três cigarros

Liquido minha garrafa de vinho tinto barato

E desse modo sábio faço com que uma puta noite solitária

Seja inteiramente absorvida

Quando vejo raiar um novo dia ameaçador

A única coisa que posso fazer é pedir a Deus

Ou sei lá o que

Para que essa minha paz, a duras penas conquistada

Não se perca no temporal do mundo

Martinho Tota
Enviado por Martinho Tota em 03/02/2010
Código do texto: T2067790