A Casa abandonada XXI A bica*
A bica não é uma bebida
Não é nada,
É antes, é,
Um ritual que se bebe de uma assentada.
Um mero exercício poético sobre a bica, no dizer
De uns entendidos,
Mas não é assim, o que é poesia,
O que é um poema.
Disseram ao Luís Ene (poeta contemporâneo português), o
Que era poesia, era contar uma pequena história,
Que ele podia fazer isso mesmo porque é o que ele fazia muito bem há muito tempo, agora no seu blog.
Eu diria que até podia ser um borrão de tinta, ou uma frase,
Ou palavra maldita,
É uma coisa na verdade que não se sabe muito bem,
Cada um é que decide.
Há contudo palavras-chave:
Eu
Alma,
Espaço
Ritmo
Harmonia
Métrica
Gramática
Comunicar
Mensagem
Amor
Voz
Dar
Esquecer
Roubar
Sublimar
Lirismo
E por aí fora, podíamos fazer um tratado de palavras-chave, servia muito bem.
Mas também se pode falar, e há quem diga muito bem,
Por mim digo, quem fala é deus, e abarca tudo mesmo o diabo.
Poeta também é o leitor, por vexes maior,
Como explicaria muito bem barthes ou Jakobson, se olharmos
À luz da comunicação. Há um espelho de circo do outro lado do livro,
O leitor é portador de escrita na leitura. E actor do texto,
Interacção meus caros, há horas que vendo isso.
Poesia , é à noite, na hora do lanche quando a fome de palavras jorra
Pegando na caneta.
“Que raio de dia,
A chuva cai mortal,
Que não tenho o guarda-chuva,
E me molha esta paixão em sal.”
Garçon!, rápido, uma bica,
fiz um poema,
que dia cheio.
• Bica= nome dado vulgarmente a café em Portugal