A Casa abandonada XXI A bica*

A bica não é uma bebida

Não é nada,

É antes, é,

Um ritual que se bebe de uma assentada.

Um mero exercício poético sobre a bica, no dizer

De uns entendidos,

Mas não é assim, o que é poesia,

O que é um poema.

Disseram ao Luís Ene (poeta contemporâneo português), o

Que era poesia, era contar uma pequena história,

Que ele podia fazer isso mesmo porque é o que ele fazia muito bem há muito tempo, agora no seu blog.

Eu diria que até podia ser um borrão de tinta, ou uma frase,

Ou palavra maldita,

É uma coisa na verdade que não se sabe muito bem,

Cada um é que decide.

Há contudo palavras-chave:

Eu

Alma,

Espaço

Ritmo

Harmonia

Métrica

Gramática

Comunicar

Mensagem

Amor

Voz

Dar

Esquecer

Roubar

Sublimar

Lirismo

E por aí fora, podíamos fazer um tratado de palavras-chave, servia muito bem.

Mas também se pode falar, e há quem diga muito bem,

Por mim digo, quem fala é deus, e abarca tudo mesmo o diabo.

Poeta também é o leitor, por vexes maior,

Como explicaria muito bem barthes ou Jakobson, se olharmos

À luz da comunicação. Há um espelho de circo do outro lado do livro,

O leitor é portador de escrita na leitura. E actor do texto,

Interacção meus caros, há horas que vendo isso.

Poesia , é à noite, na hora do lanche quando a fome de palavras jorra

Pegando na caneta.

“Que raio de dia,

A chuva cai mortal,

Que não tenho o guarda-chuva,

E me molha esta paixão em sal.”

Garçon!, rápido, uma bica,

fiz um poema,

que dia cheio.

• Bica= nome dado vulgarmente a café em Portugal

Constantino Mendes Alves
Enviado por Constantino Mendes Alves em 04/08/2006
Reeditado em 04/08/2006
Código do texto: T208686