A luta perdida
"...Que não pode cantar com melodia
Um peito, de gemer cansado e rouco".
Manuel du Bocage
não vai sair nada bonito hoje.
vazio escrever por escrever
como um viver por viver
e um transar por transar.
nada bonito, só um bloco grosso de palavras quaisquer
como uma rua qualquer, sem balanço nenhum,
sem gracejo nenhum,
seca e
sem vida.
nada bonito, nada bonito, nada
bonito
a caneta se atira rubra contra o papel, se aquece, derrete sua tinta,
tudo sem motivo algum. daqui nada sai hoje, das
mãos que se empenham em protesto contra o papel e contra a solidão
[da noite,
numa luta vã de acrobático silêncio,
nada sai.
nada bonito hoje sairá destes tendões enrijecidos.
nada, ó céus!,
não adianta mais,
é inútil
continuar tentando.