Cinderela

Dos bordeis,

Das casas de famílias,

Das lojas do dia a dia,

Descem o morro,

Descem das palafitas,

Saem da lama das periferias,

Das pontes da agonia,

Jovens, mães e cansadas Marias.

Para num ou dois dias,

Do mês de fevereiro,

Se igualarem a reis e rainhas da sociedade.

Por um momento usarem sandálias,

Tamancos, sapatos, adereços criativos e alegorias.

Em cima ou embaixo desejadas como belas no palco das avenidas.

Cantando unissonoramente uma alegria...

Letras que um mágico poeta fez para solfejar

Na boca de um ignorante, verbos nunca estudados.

Nas noites e dias que se sucedem

Qualquer dor, pecado ou castigo são suprimidos pelos sons das baterias,

Não há quem queira morrer,

Não há quem queira sair dos cinco, dez, vinte ou tantos outros minutos.

Dessa folia, dessa renovação de energia, onde tudo que reluz é ouro.

São dias que no dia que se segue, sob chuva ou sol,

Ao abrir os olhos, como o palhaço após o show descobre...

Fez rir uma porção de imperadores e a felicidade não é mais que a breviandade

De um sorriso, descoberto quando a realidade que ficou atrás da porta vem dar bom dia.

Alberto Amoêdo
Enviado por Alberto Amoêdo em 23/02/2010
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