MENINO QUE NÃO CRESCEU

O poeta é o menino que não cresceu,

ele dorme e acorda contando estrelas,

vive entre o agora e o ainda não,

quando fala de um mundo sem distâncias

como se habitasse a palma de sua mão.

Às vezes caminha manso

para não acordar as flores do caminho

ou verseja como quem se suicida,

embriagado na dor que a alma sente

(filigranas de um delírio inútil),

e depois, depois banha-se no pranto.

Dorme, sonha e segue o som do rio

de olhos fechados, segue sozinho

na ânsia de voltar ao colo da mãe,

seu primeiro e único abrigo,

que agora se evapora na distância,

como uma bolhas de sabão

que se ergue,

vacila,

desata o vôo,

e foge.

José Luongo da Silveira
Enviado por José Luongo da Silveira em 07/08/2006
Código do texto: T210793