MENINO QUE NÃO CRESCEU
O poeta é o menino que não cresceu,
ele dorme e acorda contando estrelas,
vive entre o agora e o ainda não,
quando fala de um mundo sem distâncias
como se habitasse a palma de sua mão.
Às vezes caminha manso
para não acordar as flores do caminho
ou verseja como quem se suicida,
embriagado na dor que a alma sente
(filigranas de um delírio inútil),
e depois, depois banha-se no pranto.
Dorme, sonha e segue o som do rio
de olhos fechados, segue sozinho
na ânsia de voltar ao colo da mãe,
seu primeiro e único abrigo,
que agora se evapora na distância,
como uma bolhas de sabão
que se ergue,
vacila,
desata o vôo,
e foge.