A vida num minuto
Que eu preserve o corpo intacto,
A alma livre, e em vôo raso.
Que eu nunca fuja do pacto,
Mesmo sendo só um caso.
Que em uivos ofegantes
Eu te sirva em golpes precisos;
Meus desejos, sem atenuantes.
Que eu sempre te cause impacto
E nunca me faltem improvisos;
Só assim não te cansarás da minha urgência,
Do meu fogo fáctuo.
Lembra-te que a minha insanidade,
Embora se assemelhe a carência;
É o limite da minha intensidade
A absoluta inconseqüência,
É amor em lâminas afiadas
Comunhão e cumplicidade cortante,
Desejos tantos perfilados,
Na têmpera da minha excentricidade.
Que eu perpetue nas entrelinhas,
O gozo e a febre gritante
Que entre sussurros, adivinhas.
Que eu manche a página branca;
Com a marca rutilante
Da minha verve franca,
Para que me vejas nos astros
Nas noites dos teus martírios,
E passeie nos meus rastros
Na certeza dos delírios.
Que eu seja o hoje sem ontem,
O amanhã sem tempo certo.
Que eu seja ave e amém,
Alma em corpo liberto;
Que eu seja o nada e o tudo
E o pra sempre morra no próximo minuto.