A vida num minuto

Que eu preserve o corpo intacto,

A alma livre, e em vôo raso.

Que eu nunca fuja do pacto,

Mesmo sendo só um caso.

Que em uivos ofegantes

Eu te sirva em golpes precisos;

Meus desejos, sem atenuantes.

Que eu sempre te cause impacto

E nunca me faltem improvisos;

Só assim não te cansarás da minha urgência,

Do meu fogo fáctuo.

Lembra-te que a minha insanidade,

Embora se assemelhe a carência;

É o limite da minha intensidade

A absoluta inconseqüência,

É amor em lâminas afiadas

Comunhão e cumplicidade cortante,

Desejos tantos perfilados,

Na têmpera da minha excentricidade.

Que eu perpetue nas entrelinhas,

O gozo e a febre gritante

Que entre sussurros, adivinhas.

Que eu manche a página branca;

Com a marca rutilante

Da minha verve franca,

Para que me vejas nos astros

Nas noites dos teus martírios,

E passeie nos meus rastros

Na certeza dos delírios.

Que eu seja o hoje sem ontem,

O amanhã sem tempo certo.

Que eu seja ave e amém,

Alma em corpo liberto;

Que eu seja o nada e o tudo

E o pra sempre morra no próximo minuto.

Angélica Teresa Faiz Almstadter
Enviado por Angélica Teresa Faiz Almstadter em 31/05/2005
Reeditado em 31/05/2005
Código do texto: T21164
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