A VELHA ESTAÇÃO

     Meu povo, muita atenção
     porque o trem vai chegar!
     E começa a aumentar
     toda a movimentação,
     o guarda da estação
     pega a sua bandeirinha
     e sai contornando a linha,
     os seus passos apressando,
     ouvindo o trem apitando
     e vendo uma fumacinha.

     Ao se ouvir o apito,
     o cego pede esmola,
     alguém vende mariola,
     cocada e pirulito;
     ao longe se ouve um grito
     do bom cavaco chinês
     e casa no fim do mês
     quem comer dele um dia;
     outro com broa anuncia:
     “compre duas e leve três”.

     O trem chega ao local,
     começa o desembarque
     de querosene e charque,
     produto industrial;
     desce também o jornal
     do dia que já passou,
     mas numa foto estampou
     o grande gol da vitória
     que ficará na história
     e que o rádio narrou.

     Desembarcam passageiros,
     palpitam os corações
     carregados de emoções,
     sentimentos verdadeiros.
     São felizes mensageiros
     com notícias envolventes,
     trazendo para os parentes
     o fruto do seu trabalho:
     rádio de pilha, agasalho
     e uma mala de presentes.

     Começam a embarcar
     num cantinho de um vagão:
     batata doce e feijão,
     vitrola pra consertar,
     um bode muito a berrar,
     um garajau de galinha,
     porta-chapéu e mezinha,
     um velho colchão de mola,
     um canário na gaiola,
     coentro e cebolinha.

     É hora da despedida,
     pois o trem já vai partir;
     quem parte está a sorrir,
     quem fica chora a partida.
     A volta tão prometida
     transformou-se em ilusão:
     não existe mais vagão,
     só os trilhos da saudade
     esperam com ansiedade
     na sombria estação.