Happy Hour

Enche a taça da tua alma
de aragem, cheiro de tarde,
separe em marcas vazias
de baixos relevos e aguarde
a plenitude da ausência
na escultura dos lençóis.

Com ritmo, bate a mistura
pede ao garçon si bemol
na batucada de um drinque
que em magia de alquimia,
o ponto de amar se apura.

Mergulhe em saudade imensa
de algo jamais possuído
num desamparo que arde
Van Gogh em girassóis.

Derrame o desejo excluído
em banzo de meio dia.
Sinta o cheiro do café
incitando a comunhão
entre o torpor da fé
e o espreguiçar no capim
Ângelus, vésperas na Sé
aroma de beijo e jasmim.

Oferte teu coração
ao deus da noite que aponta
e brinde com aquela taça,
aquela que disse acima.
O anis invade o amarelo
e vai enfeitando o clima
o resto mistura e não conta

Não deixe que se desfaça
no calor da boca, o gelo
e...põe o amargo no prelo...

Entorne-me em seu abraço
e na mais perfeita paz
beijo feroz, sem prefácio
o resto é demais da conta

Feche a conta, presto, pronto
o resto, em noite de ronda,
só há meio-fio, neon
um choro chamado Odeon
depois, lógico, um jazz!

05/10/04
Elane Tomich